segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Estigma

Um moço de traços rudes olhou pra mim com seriedade. Sua fisionomia grave dava-lhe, em contraponto a seus trajes, um ar de trabalhador. Porém o rapaz não era laborativo. Desistira da alfabetização por não acompanhar o ritmo da escola. E agora, com quase trinta anos e um dos mais velhos entre as sete proles, ainda morava com os pais. A sociedade não o tragava. Então ele tragava um cigarrinho. Me aproximei. Era meu dever pois estava entrando na família, posto que iniciara um namoro com sua irmã. Comecei, sem jeito, uma prosa sem assunto. Para ele foi como o pulo do golfinho. Sair da segregação, da discriminação, do escárnio. Eu não sabia, mas ele era tachado de louco. Um rótulo trazido desde de a infância que a avó com toda a bondade queria validar tentando aposentá-lo. Durante  a conversa ele me confessou que não era louco e que tinha sonhos, angústias, que tinha desejos sexuais como qualquer outro. Mas não havia prazeres pra um louco dependente dos pais. Não havia esporte, amizades, sexo, amor, nada. Não havia cor, perfume nem rosa em sua fabricada loucura. Ele não gozava. Então tragava um cigarrinho.

Um comentário:

  1. já havia lido essa, muito boa por sinal. Fumar é sempre um prazer que se busca sozinho.

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