segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Meandros medíocres e niilistas de um rio assustado

O real sentido da vida é o medo. Você tem o prazer e o medo de perdê-lo. Você tem a vida e o medo de morrer. Você tem a certeza e o medo de estar enganado. Você tem as pessoas e o medo de ser traído. Você tem medo do desprazer, medo da perda. Você não se arrisca. No máximo vai até a varanda. É o teu medo do mundo, que o mundo para ti é doença terminal. No profundo desejo de não-transformação. Quem dera houvesse a estagnação, a estabilização, o não bater até parar do coração? É o medo o verdadeiro demônio. Deus é o tempo, é o devir. Não aquele velho estúpido que te eche de medo de, fosse uma idéia nova pasmaria, pensamentos pecaminosos. Escolha agora suas armas, apanhe o seu casaco e se lance no mundo com um novo olhar: um olhar de coragem. E que sejam ditas as coisas fundamentais: o que se ama deve saber que é amado e o que não se ama deve ter conhecimento deste fato. E, principalmente, a dúvida deve ser posta. Agora, não me julgue. Eu não afirmo nada e nem defendo tese alguma. Porque o medo pode ser o seu prazer e isso torna tudo um grande paradoxo. E também não acredito em nada, muito menos em minhas próprias palavras. Frutos de uma mente turva e cansada.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Antes do Adeus

E assim, sob o brilho de uma lágrima em seus olhos, eu partirei deixando para ti apenas retratos. Assim, quando o tempo me vencer de vez e o meu coração já não puder mais respirar, eu direi, enfim, que você foi tudo em minha vida. E assim, num útimo suspiro, farei minha eterna morada em teu abraço. Assim, sob o brilho de um sol alaranjado, em seu rosto, é que eu deixarei minhas paixões se tornarem memórias. Quando meu corpo já não suportar o peso da vida, eu olharei pela última vez para você e sussurrarei que você continua linda. É... assim que a música cessar será o fim. E só instantes serão para sempre.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Hipótese alternativa para criação da teoria da relatividade



Não tinha Albert completado os seus dezessete anos quando conheceu Lucy. Era ele o tipo de cara satirizado nesses filmes bestas, cheios de hormônios adolescêntes e sem muita criatividade. Sabe o cara bobão, que usa óculos fundo de garrafa com fita isolante nas hastes e que nunca pega ninguém? Então o Albert era pior.
         Bom o que ocorreu é que ele não sabia muito que fazer com as mãos naquele momento. Ela, muito mais experiênte, pegáva-lhe a mão e ensinava o caminho sinuoso de seu corpo. Era a primeira vez que sentia o calor de uma mulher. Pele, pêlo e perfume. O coração palpitante, as pupílas dilatadas e pelo corpo todo pelos eriçados. Excitação. Mas como chegaram os dois ali? O que os levou até aquele momento íntimo? Se ele era o famoso e desprezado estereótipo ‘nerd’ por que ela então o quis?
Bom trata-se da coisa mais estúpida e sacana de que se tem notícia: ela tinha esse fetiche de ser professora de sexo. Foram os dez minutos mais felizes e rápidos da pacata vida de Albert.
         Fato, consumado, diga-se de passagem, é que não eram namorados. Não tinha romance, nem poesia. Não tinha flores, nem telefonemas. No entanto Albert ficou ali em frente ao telefone com a razão e a emoção conflitando. Tudo acontecera numa festa e ela estava totalmente embriagada. “Será que ela se lembra de mim?”- pensou. Chegou a tirar o telefone do gancho, mas hesitou. Desistiu.
         “A vida continua e se entregar é uma bobagem…”. Esse trecho de letra de canção popular serviu para Albert qual uma veste feita por alfaites. E seguiu em frente. Os dias agora eram os de sempre. O colégio, o computador e a TV. Até que um dia recebeu um telefonema:
         - Oi Albert é a Lucy! Não sei se lembra de mim, mas preciso falar pessoalmente com você…
          O aconteceu foi que eles não vestiram o saquinho e a menstruação dela estava atrasada. Agora estavam os dois em um hospital aguardando pelos seus destinos. Ele, mais uma vez, não sabia o que fazer com as mãos naquele momento. Ela… também não. Apesar de não ser virgem nunca havia atrasado sua menstruação. “E logo com ele…”- pensou. Era a primeira vez que sentiam um cala frio tão intenso. Pele, pêlo, tudo estremecia. O coração palpitante. Aflição e ansiedade. Arrependeram-se. Quizeram voltar no tempo.
         -Quanto tempo ainda falta pra sair o exame?- perguntou Lucy para a atendente
         -Dez minutinhos…
         Foram os dez minutos mais longos de suas vidas. Até que…
         -Vamos diga logo o resultado- disse ele ao vê-la com o exame na mão abrindo-o.
         -Negativo!
          “Ufa… que alívio…” sentiram.
         Nunca mais se viram. Mas Albert até hoje quando explica sua teoria da relatividade em confêrencias internacionais se lembra de Lucy. Há quem diga que ela é a tal intuição que ele sempre fala quando ensina sobre sua teoria. Acredite quem quiser...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Cidadania

O homem sujo e ensanguentado. A mulher igualmente suja e desdentada. Ambos subiram no bonde." Filho da puta!" gritou o homem, furioso,  para o motorista. "Você se acha o dono da empresa?" continuou. Todos os passageiros com suas caras de sala arrumada ficaram perplexos. Dalí até  o momento da descida o homem descarregou desaforos e ofensas contra o chofer do bonde. " Otário!" era uma de suas petulâncias preferidas. Mas até o momento que ele ia desembarcar eu não tinha entendido o ocorrido. Cidadania. Foi a primeira vez nesta cidade pacata que alguém ousou enfrentar a discriminção social. É que o motorista julgou, pela suas vestes maltrapilhas, que o moço estava liso e perguntou se ele possuia dinheiro, deixando-o furioso e sedento por cidadania: " Eu não quero respeito, eu exijo respeito!" bradou lindamente...